Carregando agora
×

Histórias que inspiram: mães empreendedoras e suas trajetórias com o autismo

As mães empreendedoras demonstram que o amor e a força são os maiores aliados na jornada com o autismo.

Produção e Reportagem por: Maria Ruth Lopes (COMULTI)

Reinventar-se. Essa é a palavra que define as mães empreendedoras. Para muitas mulheres, conciliar a maternidade e o mercado de trabalho pode ser um desafio constante. No entanto, o empreendedorismo surge como possível alternativa de trabalho oferecendo por um lado flexibilidade e autonomia para equilibrar as demandas da maternidade e da vida profissional. Mas por outro, temos que atentar para os riscos, impostos e dificuldades de encontrar matéria prima ou mão de obra primária em determinados casos.

Mesmo com essas adversidades podemos apontar diversos exemplos de mães empreendedoras que alcançaram grande sucesso em seus negócios. Histórias como a de Dona Itamara Muniz, de 43 anos, são narrativas positivas. Formada em Pedagogia e moradora do Cohaserma, ela comanda uma loja da Herbalife há 2 anos. Após o diagnóstico de autismo da sua filha em 2019, ela iniciou o negócio que serve de motivação para outras mulheres que desejam empreender.

“Eu comecei a empreender para ter facilidade de horário e para conseguir tanto exercer o papel de mãe, como também me sentir bem, porque eu sempre fui produtiva e eu tenho certeza que se eu ficasse só cuidando da minha filha, eu não seria tão feliz porque eu iria sentir falta desse lado que eu tenho, que é trabalhar, de produzir, de me sentir útil e produtiva para o mercado e para mim mesma”, disse a empreendedora.

Dona Itamara na feira de mães atípicas comercializando seus produtos. (Foto/Reprodução: Itamara Muniz)

Diante da necessidade de acompanhar os seus filhos, muitas mães atípicas buscam no próprio negócio uma saída para todas as exigências implantadas nas empresas. “Eu comecei a empreender devido à facilidade de horário, porque hoje eu posso levar minha filha para terapia, acompanhar no que ela precisa”, conta dona Itamara.

Dona Itamara é mãe da Beatriz, de 15 anos, diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista, com um ano e oito meses de idade. (Foto/Reprodução: Itamara Muniz)

“Quando a minha filha nasceu eu era gerente de vendas, a gente fechou o diagnóstico com um ano e oito meses, e eu não consegui continuar realizando o meu trabalho. Como eu sou uma pessoa que eu sempre trabalhei desde os 15 anos, eu tive logo de prontidão a ideia de montar uma loja, né? Então hoje meu marido já era um distribuidor independente e quando eu deixei o trabalho de carteira assinada eu já montei uma loja. Hoje eu trabalho com vendas diretas e multinível, a gente também faz ações”, declarou.

A presença feminina se destaca em diversos setores, com predominância no comércio. De acordo com o “Boletim Elas”, estudo anual divulgado pelo painel estatístico da Junta Comercial do Maranhão, no estado, em 2024, 41,15% dos empreendimentos são comandados por mulheres, que desempenham um papel crucial no âmbito econômico e social.

Quase a metade (41,15%) dos negócios em atividade no Maranhão tem a participação feminina no seu quadro societário, o que corresponde a mais de 152 mil empresas. (Fonte: JUCEMA)

Segundo a gerente da Unidade de Atendimento do Sebrae, Mariana Lavareda, no Maranhão são mais de 305 mil empreendedoras que empregam ou que trabalham por conta própria, o que representa em torno de 33,5% de donos de negócios no estado. “Normalmente as mulheres, elas empregam outras mulheres, o que ajuda a reduzir a desigualdade de gênero no mercado de trabalho”, explicou.

“Vemos no empreendedorismo das mulheres, uma maior autonomia financeira, permitindo que elas tomem decisões mais independentes. Que contribuam mais significativamente para as suas comunidades e mulheres, elas inspiram outras mulheres, elas servem de modelo para outras mulheres e meninas, incentivando-as a buscar seus próprios empreendimentos e ambições”, disse.

Nilma Rocha e Lívia Barbosa são exemplos dessa força transformadora. Elas superam as barreiras e moldam um futuro próspero para si mesmas, suas famílias e suas comunidades. Em busca de conquistar seu lugar em um mercado competitivo, elas enfrentaram diversos desafios, desde a administração financeira até a busca por treinamento e orientação.

Nilma Rocha, proprietária da Annas Variedades é a personificação da força inabalável com 9 anos dedicados ao empreendedorismo. Sua jornada é marcada pela reinvenção, ecoando a voz de tantas mulheres que encontram no próprio negócio o caminho para a autonomia. “O empreendedorismo começou em 2015, quando eu não tinha filhos. Foi quando eu fiquei pela primeira vez desempregada. Aí eu comecei a trabalhar com vendas, porque eu já trabalhava há quatro anos numa loja e fui demitida”, contou.

“Quando eu tive a segunda gestação, descobri que a minha filha mais velha era autista, recorri para o tratamento público, mas não consegui. Foi quando eu descobri que tinha pelo particular, só que tinha que fazer o plano de saúde. Meu esposo e eu não estávamos com muita condição, pensei: como vou pagar o plano de saúde? Trabalhando. Foi aí que eu criei a Annas Variedades”, destaca.

Dona Nilma comercializando seus produtos na feira de mães atípicas.
(Foto/Reprodução: Nilma Rocha)

A Annas Variedades surgiu da necessidade de dona Nilma complementar a renda familiar para arcar com os custos dos cuidados com as filhas. “É muito caro ter um filho especial”, desabafa. “Os custos com plano de saúde, fraldas e outros itens são altíssimos. Então, pra minhas filhas se desenvolverem, terem um tratamento de qualidade, eu tive que dar um jeito de fazer, de empreender, né.”

Dona Nilma é mãe de Ana Cláudia e Ana Vitória, autistas do nível 2 e 3 de suporte, respectivamente. (Foto/Reprodução: Nilma Rocha)

“Onde eu vou, eu ofereço meus produtos”, conta a empreendedora. “Enquanto elas estão na escola ou na clínica, eu faço minhas vendas online”, complementa.

Já para Lívia Barbosa, de 41 anos, a flexibilidade é fundamental. “Ser empreendedora do seu próprio negócio é bom, porque você mesmo faz a sua rotina, eu sempre deixo a minha filha na escola, aí aproveito de manhã pra já vender os meus produtos”, relatou.

Dona Lívia ganhou de presente três modelos de cestinhas de madeira. Então teve a ideia de confeccionar para vender. “Eu disse para o meu esposo, olha, vamos fazer isso aqui para a gente vender. E deu certo. É uma coisa que a gente sempre está vendendo. Quando tem a feira das mães empreendedoras, eu sempre levo para vender. Tem nos ajudado bastante. Eu monto o kit com os produtos das marcas que eu trabalho, coloco nas cestinhas e vendo”, contou.

Movida pela paixão pelo artesanato e pela busca de uma renda, Dona Lívia encontrou na criação de kits de presentes com cestinhas de madeira um nicho promissor no mercado local.
(Foto/Reprodução: Lívia Barbosa)

A empreendedora é mãe de uma criança autista de dez anos. “Quando tem a feira de mães atípicas, né, é bom, porque a gente acaba amadurecendo. Não tem como uma não desabafar com a outra, dizer como foi o dia com seu filho e a gente vai aprendendo, a gente vai amadurecendo e aprendendo com os nossos filhos, às vezes com os nossos próprios erros. E o bom do empreendedorismo é isso, porque a gente acaba se conhecendo como mães, né? Como mulheres guerreiras, mulheres de luta, né? Porque não é fácil, mas também não é difícil ser mãe de criança autista”, relatou.

Dona Lívia produz cada kit de acordo com as preferências do cliente.
(Foto/Reprodução: Lívia Barbosa)

As mães atípicas empreendedoras, mulheres que desafiam os moldes tradicionais da maternidade e da vida profissional, são um exemplo de força, resiliência e criatividade. Elas conciliam as demandas da criação dos filhos com a gestão de seus próprios negócios, abrindo caminho para novas possibilidades e inspirando outras mulheres a seguirem seus sonhos.

As histórias de Itamara, Nilma e Lívia, demonstram que a maternidade não precisa ser um impeditivo para o sucesso profissional e a realização pessoal. Através de sua força, criatividade e persistência, elas desafiaram as expectativas da sociedade e construíram seus próprios caminhos através do empreendedorismo, inspirando outras mulheres a seguirem seus sonhos.  O futuro é promissor para essas mulheres, que continuam a inspirar e abrir caminho para novas possibilidades.

Por outro lado, vale ressaltar que a presença do Estado é fundamental para apoiar o empreendedorismo, pois são as políticas públicas que garantem acesso a financiamentos, capacitação, infraestrutura adequada e proteção à propriedade intelectual, pontos essenciais para o desenvolvimento de negócios.

O Sebrae está entre as instituições que desenvolvem ações específicas voltadas para o empreendedorismo feminino desde 2019 e ao oferecer possibilidades de desenvolvimento empresarial e sócio emocional, o Sebrae apoia as mães atípicas para que superem os desafios e alcancem seus objetivos.

Você pode conferir uma versão compacta desta reportagem em áudio: